ADEQUAÇÃO DISCURSIVA
Chamamos estratégia discursiva ao conjunto de escolhas que um emissor faz, de entre as possibilidades que a língua lhe oferece, para produzir um texto adequado à sua intenção comunicativa, como aos seus objetivos:
— Fecha a porta — disse eu ao miúdo.
— Podia, por favor, fechar a porta? — pedi ao inspetor.
Nestes exemplos podemos ver como o pedido se adequa aos diferentes destinatários, de acordo com a relação que estabelecem com o locutor.
A ordem por que é apresentada determinada informação também pode ter a ver com a estratégia discursiva: se tiveres uma má notícia a dar, podes optar por atenuar o seu efeito, apresentando-a depois de informações mais agradáveis para o teu interlocutor.
USO ORAL E USO ESCRITO
A eficácia da comunicação depende de uma correta adaptação do que dizemos à situação de comunicação, o que implica, por exemplo, optar pelo uso oral ou escrito da língua, com as suas marcas diferenciadoras, por uma forma de tratamento ou por outra.
O seu uso oral coloca emissor e recetor numa mesma situação, num momento dado e num local preciso, com emissão e receção alternadas, o que lhe dá características próprias.
Na comunicação oral, o que fala dispõe de outros meios de expressão (gestos, mímica, entoação…) que permitem a compreensão dos enunciados produzidos:
— Dá-me essa coisa. (+ gesto)
— Ele fez assim. (+ mímica, + gesto)
— Que esperto! (segundo a entoação, pode ter significados diferentes)
Lê o enunciado que se segue e que mantém o mais possível as marcas da oralidade:
— Tamos a fazer um trabalho prà iscola e podias colaborar, tá?
— Colaborar? Hum… Qué qu’queres que faça?
— Podias emprestar a tua câmra…
— Pra quê? Pra dares cabo dela?
Compara agora com a sua versão na língua escrita:
— Estamos a fazer um trabalho para a escola. Acho que podias colaborar,
— O que queres que faça?
— Podias emprestar-me a tua câmara de vídeo.
— Para quê? Para dares cabo dela?
No primeiro texto há marcas de oralidade, como frases curtas, repetições de palavras e expressões, suspensões, contração de palavras… Já no segundo enunciado, a mensagem está ordenada mais logicamente e, por isso, não se verificam repetições nem interrupções de frases.
USO ORAL
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USO ESCRITO
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Transmissão e receção imediatas da mensagem
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Transmissão e receção diferida da mensagem
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Emissor e recetor estão inseridos no mesmo contexto
- presença de numerosos elementos deíticos
- emprego de gestos e mímica
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Maior necessidade de referência à situação em que ocorre a comunicação
Descrição de gestos e mímica
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Entoação, ritmo, acento de intensidade
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Uso de pontuação e de sinais gráficos auxiliares, mas que não podem reproduzir exatamente o ritmo, o acento de intensidade do oral
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Frases curtas
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Frases geralmente mais longas
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Frases incompletas cortadas por suspensões e repetições – presença de marcadores discursivos que funcionam como bordões
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Ordenação mais lógica da mensagem, com frases completas e articuladas – maior abundância de elementos de coesão (marcadores discursivos)
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Predomínio das frases simples e coordenadas
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Uso mais frequente da subordinação
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Vocabulário menos rico e apurado
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Vocabulário mais rico e variado
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Contração e distorção das palavras
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Domínio das regras da ortografia e da sintaxe
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REGISTOS DE LÍNGUA- FORMAL E INFORMAL
Formas de tratamento:
A relação que se estabelece entre os interlocutores (posição social, maior ou menor familiaridade, idade, etc) condiciona o uso de um registo formal ou informal, o que implica, entre outros aspetos, diferentes formas de tratamento:
· Familiar: tu, querido…
· Formal: o senhor…
· Académico: Senhor Doutor, Professor Doutor,…
· Honorífico: Senhor Presidente, Senhor Primeiro-Ministro, Vossa Excelência…
· Eclesiástico: Monsenhor, Vossa Eminência, Vossa Santidade,…
Repara que quando te diriges a alguém com quem não tens familiaridade suficiente para o tratares por tu, nem consideras adequado o tratamento por senhor, utilizas uma forma de tratamento que implica o uso implícito de você (recorre-se ao sujeito nulo subentendido):
— Está boa? Como tem passado?
— A Maria quer vir comigo?
— A tia vai sair?
Ficha informativa retirada da Gramática Prática de Português, da Lisboa Editora, 2009